Qual a sensação em ter um canal experimental no YouTube?
Canal experimental não é uma nova funcionalidade do YouTube - este artigo é sobre manter um canal sem seguir as tendências para ser cada vez mais reconhecido
Se há 30 anos o sonho de todo garoto era ser jogador de futebol (ou astronauta), hoje a realidade é outra. A possibilidade de um adolescente responder à "o que você quer fazer da vida?" com a palavra "youtuber" é imensa. E quanto mais o YouTube se torna relevante (à medida que a TV faz o caminho inverso), mais e mais jovens e crianças sentem-se atraídos por este universo, que promete fama, realização, parcerias incríveis e dinheiro.
A fórmula do sucesso é catalogada em milhares de maneiras, seja em cursos oferecidos por youtubers prestigiados, seja em vídeos feitos por canais pequenos. Um dos temas mais abordados no YouTube é justamente como fazer o canal crescer, conseguir inscritos e relevância.
Antes do YouTube ser comprado pelo Google, era uma plataforma bem mais simples do que conhecemos atualmente. Criada por dois amigos que queriam ter um lugar público para compartilhar seus vídeos pessoais, o YouTube começou a engatinhar numa época em que a própria conexão de internet era limitada e não permitia a popularização da plataforma. Foi mais ou menos neste período, em meados de 2006, que eu criei o meu canal. E a minha intenção nunca foi fazer sucesso, tampouco ganhar dinheiro, até porque essas possibilidades eram impensáveis. Tudo o que eu queria era: um lugar para guardar meus vídeos, com a possibilidade de compartilhá-los com os meus amigos.
Sempre tive uma tara por edição de vídeo. Desde quando uma colega de orkut publicou uns vídeos com umas imagens aleatórias e a música do My Chemical Romance (lembra dessa banda?) tocando de fundo, pensei: caraca, tudo o que eu queria na vida era editar vídeos assim! E ela me contou o segredo: "fiz no programa Movie Maker, Alex. É bem fácil". E era mesmo.
De lá pra cá já usei Pro Show Gold, Pro Show Producer, Sony Vegas, Adobe Premiere e, mais recentemente, Wondershare Filmora. Sempre há algo novo a aprender.
De 2006 até hoje, percebi que o YouTube vivenciou diversas fases. Se em seu começo o que imperava era o amadorismo completo, alguns anos depois a febre passou a ser o casual vlog, algo "inventado" no Brasil pelo PC Siqueira e rapidamente copiado por um monte de gente que faz sucesso até hoje: Felipe Neto, Cauê Moura, Kefera Buchmann...
Depois, começaram a surgir os primeiros conteúdos mais bem produzidos, esquetes, teatrinhos, tudo muito mambembe. Mais ou menos neste período surgiram as primeiras formas de monetizar o conteúdo, sendo este o primeiro passo para a profissionalização da plataforma.
Com esse impulso, produtoras e empresas de entretenimento começaram a apostar no YouTube, criando canais altamente bem elaborados, com séries online, esquetes bem roteirizadas e produzidas, pegadinhas do nível das exibidas no Programa Silvio Santos... o YouTube virava ali aquilo que seus idealizadores talvez nunca tivessem sonhado: a nova TV.
De lá pra cá as próprias emissoras passaram a usar o site para abrigar seus conteúdos, dado o fato de que a geração dos millennials só assistem TV no YouTube. Esse foi um passo natural.
Atualmente tenho um canal com cerca de 3 mil inscritos e 75 mil visualizações por mês. Não é sucesso. Tem canal que recebe em 15 minutos a quantidade de visualizações que recebo num mês. E sempre surge alguém comentando: "poxa, seu canal precisa crescer".
Honestamente, trabalho com publicidade e imagino exatamente o que eu poderia fazer para melhorar estes números. Mas a pergunta que ninguém me faz é: "porque você não cresce no YouTube?". E, se um dia alguém quiser saber a resposta, eu vou dizer a seguir.
Ter um canal no YouTube exige, antes de qualquer coisa, disciplina. Manter uma regularidade de publicações cansa e exige muita criatividade para produzir conteúdo útil e de qualidade. Fazer isto sozinho é praticamente impossível. É claro que existem exemplos de canais que são super famosos, onde uma única pessoa consegue gravar e editar os próprios vídeos. Whindersson Nunes é um caso desses. Mas se você reparar no conteúdo dele, irá perceber que não se tratam de vídeos roteirizados. Com exceção de uma ou outra paródia, a maioria do conteúdo se vale do talento do youtuber citado. Whindersson liga a câmera, fala meia dúzia de abobrinhas e pronto. É um caso raro de talento e carisma, coisa que não se vê todos os dias.
Outra questão fundamental é o nicho. Um canal que aborde um único tema (ou uma quantidade limitada de temas) tende a ser mais aceito, afinal, se você quer informações sobre aparelhos eletrônicos e, num belo dia, o canal solta um vídeo falando sobre os alienígenas do passado, isso pode soar um pouco desconexo para o público.
E, por fim, ser apadrinhado por alguém que já tenha uma boa quantidade de seguidores pode ajudar a impulsionar quem está precisando turbinar os números de inscritos e visualizações.
Em todos os cenários anteriores, eu peco. Não tenho talento para fazer vídeos aleatórios, não tenho uma produção ou equipe para me ajudar a realizar vídeos interessantes e bem roteirizados com regularidade, não gosto de nichar o meu canal (apesar de, ultimamente, estar focando nesta tríade randômica de 'tecnologia, cultura e marketing') e não tenho ninguém que me apadrinhe. E quer saber? Não estou frustrado por isso. Continuo treinando a edição de vídeo (até porquê, parar = enferrujar), estou praticando a minha disciplina (produzir sozinho, religiosamente, 3 vídeos por semana, não é fácil) e estou ganhando alguns trocados por isso (valeu, Google!). Meu objetivo não é ter um canal famoso ou gigante, pois isso me traria problemas que não estou disposto a enfrentar, como: haters, desilusões, comercialização de imagem, parcerias ruins... não estou dizendo que não tenho fama porquê não quero, pois não sou tão pretensioso assim. Só quero registrar que, apesar de saber que é muito difícil ser reconhecido e famoso no YouTube, existe um caminho bem evidente para buscar estes objetivos. Só que este caminho é oposto ao caminho que eu escolhi seguir.
A minha vontade é, simplesmente, continuar fazendo o meu conteúdo, mantendo o público pequeno, porém qualificado, que me acompanha e falar sobre assuntos que me fazem acreditar que estou ajudando as pessoas. Enquanto dono de um canal pequeno, tenho a possibilidade de fazer experimentos que um canal grande não me permitiria. Ter um canal grande implica na impossibilidade de errar. Eu não quero isso para mim. Quero o direito de fazer algo que gosto e me sentir bem com isso. Se um dia eu enjoar, ou mudar de ideia, eu escrevo outro texto como este. No momento, estou feliz com o meu velho e pequeno canal experimental.
E se mesmo após ter lido tudo isto, você tiver interesse em conhecer o meu canal no YouTube, o endereço é youtube.com/alexcoimbra.
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