Resenha: "Homo Deus", de Yuval Noah Harari

O Amanhã é assustador



Quando nos deparamos com um livro que pretende nos mostrar como será o futuro da sociedade humana, tendemos a encará-lo como um filme de ficção científica, onde tudo aquilo parece mais fantasioso do que será no fim das contas. Yuval Noah Harari já havia descrito, com muita competência, toda a história dos Sapiens, em seu best seller anterior e desta vez, dá continuidade à sua campanha em Homo Deus, numa jornada pela interpretação do que somos, onde estamos e, principalmente, para onde estamos indo.

São 70 mil anos de história que fizeram com que nossa espécie chegasse até aqui, com um certo grau de superioridade sobre esta pequena rocha voadora que interpretamos como Planeta Terra. A noção de raridade está diminuindo, as doenças já não dizimam povos inteiros. A busca pela 'amortalidade' é cada vez mais presente, isto é, buscamos maneiras de reconstruir tecidos e habilidades juvenis para estendermos a nossa própria existência e produtividade. Os casamentos não serão mais para sempre, os empregos não serão projetos e vida e ninguém irá querer se aposentar aos 60 anos.

A própria mudança no conceito de paz está alterando as expectativas sociais. Num mundo onde há menos guerras (se levarmos em conta as constantes batalhas territoriais e de dominação, que eram comuns até poucos séculos atrás), as pessoas estão ficando mais exigentes. A busca pelo prazer, por drogas que estabilizem a química que mantem o estado mental tranquilo, os jogos que nos livram do tédio nos pontos de ônibus... caminhamos numa velocidade absurdamente alta, contrária à direção lenta das experimentações, tão próprias dos nossos sentidos e sentimentos humanos.

Conquistas simples de outrora, agora tornam-se mercadorias do capitalismo. A modificação genética facilita a fabricação de seres perfeitos, do ponto de vista da beleza e da própria inteligência. Os Estados vivem em sinal de alerta para a possível expansão do geneticismo, enquanto que os algoritmos virtuais criam redes de conhecimento que extrapolam nosso próprio domínio sobre o que somos. Antes os deuses nos prometiam chuva para a boa colheita. O que prometerão amanhã, quando não precisarmos de mais nada disso?
Harari, mais uma vez, nos mostra quem somos da forma mais macro possível, o que nos inspira a considerar que não somos animais superiores, mas animais com motivações estúpidas, que nos levam a acreditar que podemos ser mais especiais do que, de fato, somos.

A leitura é cansativa, as páginas são intermináveis e a sensação de desmotivação é grande, principalmente se você já havia lido Sapiens. De toda forma, vale como forma de conhecer os caminhos que a tecnologia e a ciência estão abrindo para que a nossa espécie continue sendo soberana. Uma obra instigante, incômoda, que força a quebra de paradigmas e funciona como um alento, de certa forma. O mundo de amanhã parece assustador e não sei se gostaria de vivenciar estas coisas que parecem, afinal, inevitáveis.


Nota: 3/5

Resenha: Alex Coimbra

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